sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Chance de resposta do Ego

Existir é... O que, mesmo?

O que te garante que tu existe? O que te garante que está vivo?
Até mesmo as cores que vemos são produtos (interpretações) do nosso cérebro. Apenas, impressões. As imagens que nós vemos chegam para nós de cabeça para baixo.

Às vezes ando sem sentir. Vivo um dia inteiro sem perceber. Caminho vários Km sem nem ao menos lembrar-me o trajeto que fiz...

O que me faz sentir a vida é quando estou transando. E quando estou mergulhando no mar, na cachoeira. E quando estou no mato. E quando vou dormir (logo antes de dormir, visitando-me diversos pensamentos, questionamentos complicados demais para resolver...).

Mesmo que eu esteja transando pensando no que eu preciso fazer amanhã, esta experiÊncia demanda uma concentração muito maior do que simplesmente caminhar...
Aliás, quando estou com outras pessoas - não necessariamente transando, hahaha - é que percebo minha existÊncia.

Já pensei: "será que tudo existe ou é só uma criação mentirosa?"
Já pensei: "será que já morri e minha mente (?) recriou toda a antiga realidade por estar demasiado apegada a ela?"
Esta última especialmente porque tem certas coisas que acontecem de uma forma tão sincronizada... Às vezes, exatamente como havia sonhado, como havia previsto (sendo coisas boas ou ruins)...Que fico em dúvida sobre a existÊncia ao redor (e dentro de mim).

Pensar que já morri, pensei diversas vezes. Na realidade, segundo algumas teorias, morremos constantemente... Agora, "falar" sobre isso, "publicamente",é algo que nunca havia feito... Declarar esse pensamento é algo que demanda muita coragem para minha persona. Pois no fundo sinto aquele medo de estar ficando completamente louc@ - uma pausa para o ego que precisava colocar isso.

Continuando a partir do raciocínio de que não sentimos que estamos vivos. Há uma declaração que diz assim:

"Na minha cabeça, a idéia de que lavar a louça é desagradável só pode ocorre quando você não está fazendo isso. Depois que você está diante da pia com suas mangas arregaçadas e suas mãos na água morna, não é tão ruim assim. Eu gosto de levar tempo com cada peça de louça, estando plenamente consciente em cada peça, na água e em cada movimento de minhas mãos. Eu sei que se eu me apressar pra sair e ir tomar uma xícara de chá, o tempo não será agradável e não terá valido a pena de ser vivido. Isso seria uma pena, pois cada minuto, cada segundo da vida é um milagre. As louças em si e o fato de eu estar aqui as lavando são milagres! Cada tigela que eu lavo, cada poema que eu componho, cada vez que eu convido um sino a tocar é um milagre, cada um tem exatamente o mesmo valor....
Se eu for incapaz de lavar as louças alegremente, se eu quiser terminar logo para que eu possa ir tomar uma xícara de chá, serei igualmente incapaz de beber o chá alegremente. Com a xícara de chá em minhas mãos eu estarei pensando o que farei a seguir, e a fragrância e o sabor do chá, juntamente com o prazer de bebê-lo, serão perdidos. Estarei sempre atraído pelo futuro, nunca sendo capaz de viver no momento presente."

O que esse relato tem a ver com tudo isso?

Ora, simplesmente tudo... Reflita um pouco e vai entender. Senão, pare de ler. Respira fundo e vai fazer algo que tu definitivamente não gosta. Depois volta aqui pra reler isso, se quiser.

E agora, pense em tudo o que tu deixou de viver, de aproveitar (não só o que é bom e agradável, mas as dores, as infelicidades e tudo o que é ruim) por antecipar as coisas... Por se preocupar... Tudo por causa de uma promessa vazia de futuro, por uma ilusão.

Quando eu li isso eu estava passando por um momento (que acredito, ainda não terminei de passar) bem conturbado, bem complicado, difícil, denso (tenso)... Tentei seguir o que ele dizia e por algum momento senti-me em paz: tudo o que eu precisava estava ali. Tudo o que eu queria era exatamente o que eu estava fazendo, e aquilo que não estivesse dentro do que eu sonhava, eu sentia que chegaria o presente onde poderia mudar.
E as coisas tornaram-se mais vivas, muito mais vivas... A existÊncia era mais sentida. E com menos ego e tristezas (pois o ser não se preocupa, quem se preocupa é o ego, que precisa estar constantemente afirmando sua existÊncia).

Mas nosso costume, o mundo, o sistema onde estamos inseridos não possibilita que nos preocupemos com o presente.
E preciso sairmos daqui. Precisamos nos libertar dessas correntes. E necessário que consigamos identificá-las. Uma mísera fração (que talvez possa ser apenas um reflexo delas) delas já foi identificada e analisada através desse texto, que conclui - sem concluir - que é impossível vivermos plenamente, vivermos felizes, estando inseridos aqui, neste contexto. Não é possível. Algumas coisas precisarão ser abandonadas. Alguns costumes, alguns luxos, alguns hábitos...

Esse texto todo é uma contradição. O Ego criticando a si mesmo. O Ego querendo anular-se. Que seja.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

A Fila, @ ser-human@ domad@, anulad@

Uma "breve" crítica a fila:

A belíssima forma que inventaram de domesticar @ bich@-human@!

Isso, desde seus primeiros passos.
"ORGANIZADOS E EM SILÊNCIO, NUMA FILA!" - grita a professora para os alunos que, devem ter, no máximo, 13 anos.
13 anos e os hormônios em completa ebulição! 13 anos no MÁXIMO, e um nível MÁXIMO de energia para gastar, de coisas para conhecer, para aprender - para SER! E ter que reprimir todos esses impulsos para adequar-se ao limitado espaço de UMA FILA! Não basta estar no espaço limitado, é necessário ir EM SILÊNCIO, ORGANIZADOS.
Geralmente separada: meninos de um lado, meninas do outro. Pois os extremos não sabem conviver num mesmo espaço - e a professora, cega por uma ordem, não terá paciência para fazer o mais difícil - o que nem os pais pretendem fazer - que seria: conscientizar (muito além de educar, muito além...). "Quem não fizer o que eu mandar vai pra direção". E a direção, que deveria ser o apoio conscientizador... Pouco ajuda. No fundo, o objetivo era excluir o agente perturbador da sala - a exclusão, tão bem vinda...

Num grupo de "revolucionári@s" - auto intitulados, obviamente - alguém grita: "COXINHAS!" - para @ "desavisad@" companheir@ de luta, que não sabia o quão "feio", o quão tosco é cantar o hino nacional e segurar um cartaz escrito "FORA CORRUPÇÃO". Porque é muito mais fácil excluir @ ignorante do que conscientizá-l@ (algo muito além das tarefas de um@ revolucionári@, suponhamos). Porque é muito difícil, muito complicado e gastará muito da sua bela massa cinzenta, do seu tempo precioso de "luta", EXPLICAR para a pessoa em questão, ainda cega, os porquês de fazer isso ou aquilo. Porque talvez nunca tiveram a paciência para TE explicar as coisas, e aí você acaba retribuindo isso ao mundo - essa falta de paciência - sem nem perceber o quanto você, car@ revolucionári@, está contribuindo para a decadência do seu próprio movimento, da sua tão estimada "luta". Ou quem sabe, porque você é inteligente o suficiente para ser autodidata, aprender sozinho, ou observando, ou ler entrelinhas e, inutilmente (de forma vazia e egoísta) espera que o mundo inteiro seja igual a você. - ANDA NA FILA! ANDA NA LINHA, SEJA COMO A GENTE! NÃO REPRODUZA A MÍDIA LIXO, MAS REPRODUZA O QUE A GENTE FAZ, OU SERÁ EXCLUÍDO! É o que tu diz quando grita "COXINHA!" ao invés de pegar a pessoa pela mão e dizer "cara, tu sabe o que tu tá defendendo?" - algo extremamente carinhoso ao próximo que receber este tratamento e, igualmente, doloroso demais para quem faz. Argumentar é uma prática que nos foi pouco ensinada, na escola...

Quando eu tinha 6 anos de idade eu estudei num colégio - de freira, pra minha infelicidade - que tinha um pátio GIGANTESCO. Puta que pariu, aquele pátio era realmente enorme, e tinha de tudo, e era incrivelmente encantador, e eu podia descobrir MILHARES de novidades ali - muito mais do que na sala de aula.
Sendo uma pessoa sempre espontânea demais, curiosa demais, tagarela demais, impulsiva demais... Lá me fui, querer correr, brincar, ver aquele mundo novo que se abria inteiramente aos meus olhos.
Identifique-se, se quiser: fui levada para a psicopedagoga. Diagnóstico? Hiperatividade.
Hiperatividade é o caralho! Mesmice é a PRIMEIRA AULA DO ANO, DA MINHA VIDA, naquela sala de aula, a professora que falava no mesmo tom de voz, o planejamento que deveria ser seguido, a falta de criatividade. Essa mesma professora me queria domada, em silêncio, organizada numa FILA, enquanto correr era tão mais divertido, enquanto existia um mundo lá fora.  Enquanto brincar é muito mais interessante - e, pasmem se quiser, até hoje acredito que brincar me ensinou muito mais.
Hoje em dia, as crianças ficam coladas na frente de um computador. E os pais reclamam. O que querem, afinal, que os filhos façam? Quando as crianças correm, brincam, gritam, inventam, testam os próprios limites, se descobrem animais selvagens e pessoas civilizadas em frações de segundos, encontram suas próprias formas de se organizarem (e de bagunçarem), os pais reclamam. Quando ficam como robôs, sentados, "organizados", colados em um computador, comportados sem falarem um "piu"... Os pais reclamam!
Só não reclamam @s que curtem a bagunça, a zoeira, que curtem a festa, a sujeira, a gritaria, a cor toda, a criançada toda, testando os limites, a criatividade, a existência, puramente existindo... BINGO!
Porque tudo o que é diferente mostra que existe, e é doloroso de admitir. Seja o lado bom, seja o lado ruim. Seja a tua responsabilidade dentro dessa existência.

Ironicamente, grita @ companheir@ de luta: "RESISTIR é EXISTIR". @ mesm@ que gritou logo antes "COXINHA!" pra um@ desavisad@ na fila no manifesto...

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A identidade é uma prisão

A identidade é uma prisão. Isso mesmo que você ouviu.
Ao ler este texto, esqueça da importância da identidade como formadora da sociedade.
Esqueça da importância da identidade como um elo do indivíduo com seu grupo.
Esqueça tudo o que você já aprendeu sobre a identidade, sobre a personalidade.
Abra-se para uma nova forma de encará-la: como uma prisão.
Estamos aprisionados ao que? pelo que? por que? como?
Provavelmente são essas as perguntas que passeiam pela sua cabeça neste momento. Não é mesmo?
Algumas mais fáceis de responder, outras nem tanto. Mas ao invés de responder pontualmente cada uma delas, vamos elaborar mais a respeito da identidade como papel definidor na sociedade.
Alguém, algum dia, deu-se conta de como os seres humanos são apegados à sua imagem, à algo que os defina individualmente, uma personalidade que precisam manifestar neste planeta. Cada um quer manifestar sua persona de forma individual, mas integrada ao coletivo. Sempre foi assim. Começamos com esse culto à casca desde que somos bem pequenos. Talvez ele seja formado com as primeiras lições - traduzidas como "isso é feio!" - e acabam se estendendo naturalmente como diretrizes. Isso é feio aos olhos dos outros. A diretriz aqui é o que os outros vão enxergar: a sua identidade. O abismo é entre o que quer ser e o que de fato é.
Entretanto, por mais que a gente sempre pareça algo, no fundo nos apegamos à identidade - ou talvez, ao ideal de identidade - que temos e é através dela que nos guiamos - pois na falta de uma mãe para nos dizer "isso é feio" temos nossa identidade como guia para nossas ações.
Fato é que alguém percebeu o quanto a "mãe-identidade" está atrelada ao ser humano que deve ter pensado "por que não me aproveitar disto?". E aí, meu caro leitor, pense em tudo o que gira ao seu redor, tudo, especialmente o que é ligado à propaganda, às vendas: este "tudo" está se aproveitando do SEU ideal de identidade. Do nosso ideal de identidade. De UM ideal de identidade que não necessariamente é meu ou seu ou nosso, mas que foi provavelmente imposto.
Difícil engolir essa teoria de lavagem cerebral?
Difícil mesmo, concordo.
Entretanto a identidade imposta à nós também é esperta o suficiente: ao mesmo tempo em que ela coloca-nos dentro de seus padrões - os padrões que são interessantes ao "famoso" sistema (da qual não tomamos conhecimento mas que simplesmente influencia em 90% do nosso tempo) - também vende, por outro lado, a ideia de que não devemos nos preocupar com a opinião alheia. Assim, ela cria uma falsa imparcialidade.
Estamos, por fim, aprisionados num padrão social que nos é imposto e, de olhos vendados. Seguimos reforçando nossa identidade, procurando algo para ser nossa diretriz, a matriz que todos perdemos com o parto.
Agora chegamos ao ponto alto desse texto: o objetivo.
O objetivo é claro: ao tomar uma forma para si mesm@, este ser acaba limitando-se sobre todas as possibilidades de ser.
Numa escala de mercado, impede o médico de ser taxista (e vice-versa). Impede o professor de matemática de ser enfermeiro. Impede o artista plástico de ser cientista. Não são admitidas múltiplas personas. PRECISAMOS nos definir dentro de uma carreira. Dentro de uma profissão. Dentro de uma especialidade. E para nos definirmos precisaremos na maioria dos casos passar por algum treinamento - que nos tomará uns bons anos de estudo; ou precisamos estar enquadrados numa empresa, numa loja, numa carga horária específica, com moldes específicos de comportamento e exigências pré-definidas, que te definem dentro dos teus dias - te obrigando a planejar o que vai fazer amanhã, depois de amanhã, daqui há um mês ou nas próximas férias de verão (sendo que estamos a recém em abril). Assim, não basta nos definirmos dentro de uma identidade, mas também precisamos definir o nosso tempo futuro - que não é nada além de uma (vazia) promessa.
Numa escala social, o pai de família não pode ser o amigo baderneiro.
A mãe de família não pode infinitas coisas impostas pelo machismo.
A filha mais velha deve dar o exemplo e seguir numa carreira de sucesso.
Pessoas comuns não podem ser políticas - nem verdadeiramente politizadas.
E os políticos não serão tratados como pessoas comuns.
E o seu vizinho não será o revolucionário - e nem você, pois agora é o estudante universitário de advocacia que trabalha no escritório e está no sétimo semestre, encaminhando sua vida para um futuro promissor.
Numa escala emocional, a identidade te reprime à opções. Ninguém quer amar o imprevisível, pois não sabemos o que esperar do imprevisível. Afinal, nossa identidade exige que outros tenham identidade, alimentando a prisão que a aprisiona e assim o mundo será um lugar seguro, onde conhecemos tudo - como se fosse possível padronizar o ser humano, independente de quantas coisas ele afirme, continuará constantemente mudando, e só um tolo para acreditar que é sempre o mesmo. Ignoraremos portanto nossa própria inconstância ao desconsiderarmos a inconstância alheia. Ignoraremos nossa própria essência transformadora de nós mesm@s e do mundo ao nosso redor.
Estendendo essa aversão ao imprevisível para um olhar mais político e social, é muito mais fácil controlar aquilo que conhecemos. O desconhecido nos gera ansiedade. O desconhecido nos traz receios e a certeza de que poderemos perder. Um mundo cheio de pessoas imprevisíveis é como uma mata, uma selva, uma floresta densa. E não é à toa que nossas florestas estão progressivamente sumindo...
A identidade é uma prisão: pois no momento em que nos definimos como "x" não poderemos concomitantemente sermos "y". Pois no momento em que nos enquadramos - nós, seres tão complexos, seres que ignoram sua própria origem, que desconhecem seu verdadeiro lar e, aqui nesta dimensão procuram tatear, no escuro, por pistas de sua essência -, no momento em que entramos na caixa da identidade, suas laterais todas são como barreiras à imensidão, ao infinito, ao universo... à onipresença e à própria divindade, presente em cada um de nós não sob o sentido religioso, mas sim, com o sentido unificador de povos, revolucionário de sua realidade e das realidades que o cerca. Divino no sentido de poderoso e de capaz, pois temos potencial imenso para modificar nossas vidas e as dos que estão à nossa volta: modificamos a vida de diversas pessoas sem nem nos darmos conta, pela nossa simples manifestação. Nossa vida foi, é e será modificada pela influência dos demais (e suas milhões de identidades). Também será modificada sempre por aqueles que entenderam da influência que a identidade tem sobre nossos diminutos seres - incluindo, aí, o atual sistema em que vivemos.
Tente recordar se, em sua vida, sua presença já alterou algo na vida de alguém, por menor que isto seja, por mais sutil que isso seja. Isso de fato já aconteceu, não é mesmo? Provavelmente sem que você tivesse percebido, não é mesmo? Seu contato com outrem de alguma forma alterou o percurso desta pessoa.
Então imagine esse potencial sendo aplicado de forma criativa, transformadora e renovadora de MUNDOS. Pois é, você pode.
Você, que originalmente não sabe de onde vem, nem pra onde vai, mas que surgiu dessa mesma farinha da qual deu origem à todos nós. E no final é isso que importa. Libertando-nos assim da identidade que nos aprisiona, da segurança que nos sufoca e nos amortece, que nos impede de retornar ao nosso estado de total plenitude, seremos capazes de preencher as lacunas do mundo, o próprio mundo e nossa existência.
Vá em frente, farinha do mesmo saco. Faça melhor a cada dia: faça sempre diferente, enlouqueça e fuja dos padrões. Não seja você. E não seja você. E também não seja você. E não seja eu. Seja uma legião. E não seja a legião. Seja nada. Ou, simplesmente seja: o universo manifestando-se livre do ego!
A (in)existência plena.